quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Madeira de Redescobrimento

Material de Demolição

Reutilizar peças antigas e materiais de demolição faz de seu lar uma caixa de surpresas e histórias - e contribui para a preservação ambiental. Os objetos vão ganhando outro rumo e novas lembranças são agregadas ao que seria descartado.

“Objetos antigos, especialmente se pertenceram a um parente ou vêm com uma narrativa, tornam-se bens preciosos. Não porque seu valor seja potencialmente um investimento, mas porque eles trazem uma experiência única”, afirma Christian Dunker, professor do Instituto de Psicologia da USP. Isso acontece quando um objeto ganha valores simbólicos, como as lembranças e as histórias que as pessoas agregam a ele.

Materiais antigos hoje também ganham novo design, nas mãos de profissionais como Carlos Motta, arquiteto que faz projetos e móveis usando o que chama de “madeira de redescobrimento” – árvores caídas ou madeiras de demolição. “As pessoas estão percebendo que é um devaneio trocar tudo, o tempo todo, por peças da moda. Só que não se trata de moda, mas de utilidade”, diz Carlos. “Uma cadeira serve para sentar, e é possível sentar nela por muitos anos.”

E a casa cai

Assim como a vida se renova e se recicla, as cidades também ganham novas caras. No livro São Paulo: Três Cidades em Um Século, o arquiteto Benedito Lima de Toledo compara São Paulo a um imenso pergaminho, que tem sua escrita raspada de tempos em tempos, para receber outras palavras. Com as cidades, principalmente no Brasil, em constante reconstrução, nem sempre quem ganha é a história. “A demolição das casas antigas ocorre por causa da especulação imobiliária. Os terrenos valem por sua potencialidade construtiva”, diz Benedito. Isso significa que, muitas vezes, uma bela casa construída na década de 1920 é demolida para dar lugar a um prédio comercial, que vai gerar mais lucro.

Ainda que, em alguns casos, simbolizem o fim de uma história arquitetônica, as casas demolidas podem emprestar seus pedaços para novas construções. É que pouco se perde do que vem abaixo. Telhas, pisos, tijolos, janelas, portas, quase tudo pode ser reaproveitado. O material de demolição de construções recentes tem preços mais acessíveis. Já o material de casas antigas, de mais de 50 anos, é valorizado, virou coisa chique. Existem até lojas especializadas que vendem esses materiais em seu estado original ou restaurados.

Pensando em tudo isso, vale olhar com mais cuidado para suas paredes e as de seus familiares e investigar um pouco as histórias que elas ocultam. Acertava em cheio o escritor irlandês George Moore quando dizia que “um homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo de que precisa e volta para casa para encontrá-lo”.
(matéria da revista vida simples-"morar")

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